Terra Indígena Tenondé Porã

A Terra Indígena Tenondé Porã tem uma extensão aproximada de 15.969 hectares e está situada no extremo sul do município de São Paulo, abrangendo partes dos municípios Mongaguá, São Bernardo do Campo e São Vicente. Possui também trechos em sobreposição com duas unidades de conservação: a Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos, do município de São Paulo, e o Parque Estadual da Serra do Mar.

Há cerca de 1.500 Guarani vivendo na TI Tenonde Porã, habitando, atualmente, 8 tekoa, que os não indígenas conhecem por “aldeias”. As duas mais populosas são a Tenonde Porã (também conhecida por “aldeia da Barragem”), e a Krukutu. As demais são as tekoa Guyrapaju, Kalipety, Yrexakã, Kuaray Rexakã, Tape Mirĩ e Tekoa Porã. Ao longo de nosso território, junto às belezas das matas e rios, há diversas localidades que outrora já foram nossas aldeias, assim como antigas trilhas que até hoje utilizamos e onde coletamos material para artesanato, plantas e ervas medicinais, compondo uma extensa rede de caminhos que vão até as aldeias guarani no litoral.

Em maio de 2016, o Ministério da Justiça publicou a portaria declaratória da TI Tenondé Porã (Portaria MJ/GAB nº 548), aprovando os limites presentes nos estudos de identificação conduzidos pela Funai e pelos quais nossas lideranças lutaram por mais de 30 anos para verem reconhecidos. A portaria declaratória é o marco mais importante do rito de demarcação, garantindo de forma definitiva a posse permanente sobre nosso território tradicional e autorizando as etapas conclusivas do processo: a colocação dos marcos físicos nos limites e a desintrusão das áreas ocupadas por não indígenas mediante a indenização de benfeitorias, formalizando em seguida a homologação presidencial e o registro final da Terra Indígena.

É importante esclarecer que já existe uma frequência significativa de visitas à Terra Indígena Tenondé Porã. Em razão da proximidade com a mais populosa área urbana do país, há uma grande quantidade de não indígenas que vem conhecer nossas aldeias. Entretanto, além dessas visitas que são feitas sob nosso consentimento e que buscaremos regularizar e melhorar com este Plano, há também ingressos e visitas realizadas sem nossa autorização no interior de nossa Terra Indígena. Tais ingressos foram facilitados pela construção, ao longo do último século, de muitas estradas, ferrovias, linhas de transmissão, etc. no interior de nossa terra, processo relacionado a um antigo histórico de colonização que promoveu a ocupação por não indígenas de muitas regiões de nosso território tradicional. 

O presente Plano de Visitação é, assim, uma ferramenta fundamental para a regulamentação de atividades turísticas no atual contexto de nossa terra, tanto as que já ocorrem, como as que venham a ocorrer no futuro, garantindo que elas sejam realizadas com o mesmo respeito de quando se visita a casa de qualquer pessoa. Afinal, a Terra Indígena Tenondé Porã é nosso lar!

Breve nota sobre nossa história na região

O povo Guarani habita a região da Mata Atlântica meridional há milênios. Mas, nos últimos 500 anos, essa região, que para nós não tem fronteiras e que chamamos de Yvyrupa (leito ou plataforma terrestre) foi imensamente devastada pelos não indígenas, os jurua: aqueles que tem “cabelo na boca”.

Enquanto devastavam as matas, expulsavam, escravizavam e matavam nossos antepassados, os jurua também criaram várias fronteiras, de países e estados, em nosso território tradicional. Hoje, nossos parentes espalham-se em aldeias separadas por essas fronteiras, desde o estado do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, mas também na região noroeste da Argentina e na parte oriental do Paraguai.

Apesar dos Bandeirantes de São Paulo terem quase exterminado nossos antepassados que viviam na região, nós, seus descendentes, sobrevivemos. Muitas vezes fugindo e nos escondendo em matas inacessíveis, mas sempre que possível voltamos para as aldeias que nossos avós conheciam, nas proximidades da Serra do Mar.

No passado, além de termos que frequentemente nos esconder, as autoridades jurua também buscavam invisibilizar nossa presença na região e por isso há poucos registros dela, mesmo assim, existem alguns, como a documentação histórica proveniente de escritos do pintor e historiador Benedito Calixto, que testemunha a intensa presença do nosso povo Guarani na “Serra de Santa Cruz dos Parelheiros” desde a virada do XIX para o XX.

É nessa região, de ligação entre o litoral e o planalto, que possuímos nossas trilhas milenares e onde fizemos diversas aldeias. E apesar de todo impacto gerado pelos jurua nos tempos recentes, como a construção de ferrovias e o desmatamento para a produção de carvão que marcaram o início do século XX, seguimos com nossas aldeias nesse território, e que hoje está finalmente demarcado: A Terra Indígena Tenondé Porã.

Uma território que serve de lar não só para nós, que nascemos e crescemos aqui, mas para todos os nossos parentes guarani, que mesmo espalhados pela Yvyrupa, seguem atravessando as fronteiras criadas pelos jurua – algo que sempre fizemos desde antes da chegada deles –, garantindo a circulação das famílias guarani no pouco que restou das matas que há milênios habitamos